A Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou nesta sexta-feira, 05 de maio de 2023, o fim da emergência global de saúde, mas alguns veículos de imprensa estão publicando como o fim da pandemia de Covid-19, de forma equivocada.
O epidemiologista da Fiocruz/Amazônia, Jesem Orellana, alerta para este mal entendido e esclarece que muitas pessoas continuam perdendo as suas vidas por causa da doença.
“É importante para a população entender que o fim da emergência de saúde é um protocolo da OMS que coloca fim, basicamente, aos esforços internacionais para comunicar aos diferentes países, pesquisadores, trabalhadores de saúde, indústria farmacêutica, laboratórios produtores de vacina, criação de mecanismos para acelerar a aprovação de vacinas, por exemplo, ou de investigação de determinadas situações dentro de um contexto pandêmico. A pandemia continua ativa, a doença continua causando milhares de casos e até mesmo mortes em escala planetária. No Brasil, por exemplo, ocorreram em torno de 200 a 300 mortes por Covid-19 nas últimas duas ou três semanas”, explicou.
No que se refere às vacinas, Orellana reforça para a necessidade da vacinação, pois, segundo ele, esta é basicamente a única aliada das pessoas contra a Covid-19.
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom declarou, após três anos da Covid-19, que 7 milhões de mortes foram relatadas à OMS, mas acredita que este número pode ser bem maior, podendo chegar a cerca de 20 milhões de mortes no planeta.
A decisão da OMS de anunciar o fim da emergência global de saúde tem como razão principal a queda no número de casos e mortes pela Covid-19, em decorrência das vacinas desenvolvidas e aplicadas em todo o mundo.
O diretor-geral observa, entretanto, que a pandemia pode voltar a ser uma emergência de saúde, caso surja uma nova variante com alto impacto.
“Este vírus veio para ficar. Ainda está matando e ainda está mudando. Permanece o risco do surgimento de novas variantes que causam novos surtos de casos e mortes”, declarou.
A traumática experiência brasileira na gestão da pandemia
A sociedade brasileira viveu, durante o pico da pandemia de Covid-19, entre 2020 e 2022, uma experiência traumática de irresponsabilidade e desinformação por parte do então presidente Jair Bolsonaro, ocasionando mais de 700 mil mortes pela doença.
“O Brasil é o segundo país onde mais pessoas morreram por Covid-19 e, sem dúvida nenhuma, um dos países que pior administrou a epidemia em escala planetária. Infelizmente, as cicatrizes que ficam são muitas e, talvez, a mais importante e emblemática foi o número de mortes pela Covid-19 no país. Este foi um grande trauma. As imagens dos colapsos que tivemos em Manaus, por exemplo, ficaram no imaginário popular, além dos hospitais lotados nos grandes centros urbanos, independente da região do Brasil, que acabam sendo as grandes marcas negativas na gestão da pandemia”, afirmou Jesem Orellana.
Em três anos de pandemia, o ex-presidente Jair Bolsonaro trocou quatro vezes de ministro da saúde. Os dois primeiros, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, discordavam da maneira como o ex-presidente queria atuar na pandemia, pois defendia o uso de medicamento ineficaz contra a Covid-19.
Além de tudo, a sociedade brasileira foi boicotada com a omissão, pelo Ministério da Saúde, na divulgação dos dados sobre os números de casos e mortes pela Covid-19 gerando uma desinformação que custou muitas vidas.
Em acréscimo à divulgação de medicamentos sem comprovação científica, o ex-presidente raramente usava máscaras e não mantinha o distanciamento social nas reuniões ministeriais, por exemplo, ou com os seus eleitores. Como mais um agravante, desacreditou à ciência e negou a eficácia da vacina contra os casos mais graves da doença, tanto que agora está sendo investigado por fraude no seu cartão de vacinas.
Lamentavelmente, no período em que o mundo e o Brasil enfrentaram a pior crise sanitária dos últimos tempos, o país contou com um presidente negacionista e irresponsável que só contribuiu para o aumento dos casos e mortes pela Covid-19. Além disso, a doença gerou danos profundos como orfandades, desempregos, falências, aumento do feminicídio, atraso escolar e muitas sequelas na saúde causadas pela Covid-19 como ansiedade, depressão, fadiga, dores, perda de memória, perda de paladar e olfato, dentre outras caracterizadas como “Covid longa”, de acordo com pesquisadores.