No Dia Internacional das Mulheres, o Observatório de Direitos Humanos, Crise e Covid-19 destaca a pesquisa realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e Datafolha – Instituto de Pesquisas, realizada em janeiro de 2023 referente ao ano 2022, e que traz dados inéditos sobre as diferentes formas de violência física, sexual e psicológica sofrida por mulheres brasileiras com 16 anos ou mais.

O estudo chamado de Visível e invisível: a vitimização de mulheres no Brasil está na sua 4ª edição e comprova que o Brasil ficou mais inseguro para as mulheres, ao apresentar um crescimento das diversas modalidades de violência, incluindo as formas graves de violência física que podem resultar em morte.

De acordo com a pesquisa, este crescimento acentuado ocorreu em decorrência do desfinanciamento do Governo Federal, principalmente nos últimos quatro anos, de políticas de enfrentamento à violência contra a mulher e do comprometimento do funcionamento de serviços de acolhimento às mulheres em situação de violência durante a pandemia da Covid-19, afetando os serviços de saúde, assistência social, segurança e acesso à justiça. Além disso, houve uma intensificação de ações políticas de movimentos ultraconservadores que buscaram combater a igualdade de gênero, fortalecendo a desigualdade entre homens e mulheres e induzindo as mulheres à submissão, reforçando uma sociedade machista, impulsionada no governo de extrema-direita do ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022).

Parceiro íntimo

O estudo mostra que 33,4% das mulheres brasileiras com 16 anos ou mais experimentaram violência física ou sexual provocada por parceiro íntimo ao longo da vida, como tapa, batida e chute, e 21,1% foram forçadas a manter relações sexuais contra a sua vontade. Em relação às violências psicológicas, este percentual chega a 43% de mulheres que sofreram humilhações, xingamentos e insultos de forma reiterada. Quase metade das entrevistadas, 43%, afirmou ter vivenciado umas das formas de violência ocasionada pelo parceiro íntimo, ou seja, 1 em cada 4 mulheres entre 25 e 34 anos (48,9%). Os índices das mulheres entre 35 e 44 anos e 45 e 59 anos são de 43,6% e 44,2%, respectivamente. Destas mulheres, 45% eram negras e 36, 9%, mulheres brancas.

2022: crescimento da violência contra as mulheres, sobretudo, as mulheres negras

No último ano, 28,9% das mulheres relataram ter sido vítima de algum tipo de violência ou agressão, a maior prevalência já verificada na série histórica da pesquisa iniciada em 2017. São 18,6 milhões de mulheres de 16 anos ou mais que sofreram alguma forma de violência ao longo de 2022, com um agravante: o crescimento de armas em circulação. As armas de fogo são consideradas o principal instrumento utilizado no cometimento de homicídios e feminicídios, com o aumento de 70,9% na incidência de vitimização doméstica adicional, chegando a 3.303.315 mulheres ameaçadas com facas e armas de fogo no último ano.

Mais uma vez, de acordo com a pesquisa, as mulheres negras apresentaram níveis de vitimização muito mais elevados do que as mulheres brancas nos casos de violência física severa, como espancamento (negras com 6,3% e brancas com 3,6%) e ameaça com faca ou arma de fogo (negras com 6,2% e brancas com 3,8%). Dentre as mulheres vítimas de agressão, as divorciadas foram mais agredidas.

Em relação ao local onde as agressões aconteceram, 53,8% das mulheres afirmaram que ocorreram em casa e os principais autores da violência são os companheiros e ex-companheiros, com 58, 1% dos casos. No entanto, o que chama atenção na pesquisa refere-se às atitudes tomadas pelas mulheres que sofreram violência: 45% das mulheres responderam que não fizeram nada. As que buscaram ajuda procuraram a família (17,3%) e os amigos (15,6%). Somente 14% procuraram as delegacias da mulher e 8,5% as delegacias comuns. Estes dados mostram que as instituições de segurança pública não estão conseguindo ajudar as mulheres que sofrem violência pelo fato de não acreditarem na efetividade das instituições, deixando-as mais vulneráveis aos agressores.

A pesquisa finaliza com uma seção de “recomendações” para o desenvolvimento de políticas públicas, projetos e programas que possam auxiliar no enfrentamento da violência contra meninas e mulheres, considerando, sobretudo, o fortalecimento e capacitação das pessoas que compõem a rede de proteção às mulheres.

Leia a pesquisa completa aqui https://forumseguranca.org.br/publicacoes_posts/visivel-e-invisivel-a-vitimizacao-de-mulheres-no-brasil-4a-edicao/